E aí, como ce tá? Tá bem? Espero que sim, é claro, hahah
Hoje estou me sentindo na liberdade de fazer uma postagem um pouco diferente, saindo da onda "escritos por fulano" para algo "escritos por mim". Não sou uma grande escritora, e nem procuro ser, mas de vez em quando é legal botar pra fora alguma ideia que me vem à cabeça.
Abaixo tu vai encontrar um conto que escrevi há muito tempo atrás, mas ainda é uma das minhas paradas que mais gostei.
É curtinho, romântico e meio triste, espero que te agrade! Estou aberta a opiniões.

Ah, os quotes entre aspas são da música A case of you, da Joni Mitchell, que me serviu de total inspiração em uma época em que eu ouvia bastante essa moça.Você poderá escutar a música logo abaixo. Se quiser, escute enquanto lê, imagino ser legal! hahah




"Just before our love got lost you said "I am as constant as a northern star", and I said "Constantly in the darknes. Where's that at? If you want me I'll be in the bar""

     Não sei bem o que esperava, mas sei exatamente que, naquela noite, eu saí para beber e esquecer completamente como a vida é, quem sabe até literalmente, mas lá estava ela, após anos. Quem diria que essas coisas realmente acontecem na vida real?
     Eu não.
- Bem mesmo que tu disse que eu poderia te encontrar em um bar sempre que quisesse, mas nunca havia levado realmente a sério, pensei que era só algum tipo de metáfora. - E então eu a via novamente com aqueles olhos cintilantes, aparentemente sempre marejados, cheios de mágoa. Sem esquecer do sorriso simpaticamente irônico.
     Não sabia o que fazer além de continuar segurando o copo de brahma (que era pra ter sido a saideira) e ficar bestialmente a encarando, o que imagino que a deixou desconfortável, então logo quando percebi minha grosseria tratei de tentar balbuciar algo que fizesse sentido para uma conversa normal.

"I remember that time you told me, you said "Love is touching souls", surely you touched mine 'cause part of you pours out of me in these lines, from time to time"

     E lá estávamos nós no meu apartamento, quem olhasse de fora acharia que não tinham se passado tantos anos.
     Eu ainda não sabia o que ela estava fazendo novamente no estado, muito menos se havia voltado pra ficar ou se era só uma visita. Na verdade, eu ainda não sabia de nada, nem porque ela estava me dando confiança. Eu não merecia. Não mereço.
     É só que, no bar, ela percebeu que eu já estava de saída e também o meu estado quase de dar pena denunciou o meu desgaste, então quis remarcar para nos vermos e botarmos a conversa em dia uma hora em que eu estivesse mais disposta, mas não pude permitir isso. E se ela fosse embora e, desta vez, para nunca mais voltar? E se essa fosse uma chance do destino? Eu não pude simplesmente deixá-la ir, não era por acaso que havíamos nos encontrado, então sugeri irmos ao meu apartamento, que não era muito longe dali.
     A mulher (não uma menina, como da última vez que a havia visto) dos olhos cintilantes aceitou prontamente e isso me fez esboçar um sorriso que imagino ter feito um contraste aparente com as minhas olheiras.

"I met a woman, she had a mouth like yours, she knew your life, she knew your devils and your deeds and she said "Go to him, stay with him if you can, but be prepared to bleed"

     Tudo aconteceu muito rápido, quando percebi já estava com meus lábios em sua pele, e ouvia entrementes suspiros, alguns mais abafados que os outros.
     Senti saudade daquele corpo quente, que contorcia e se encaixava nas minhas mãos conforme minha boca encontrava pontos estratégicos. Senti saudade do ar que parecia tornar-se rarefeito entre nós.
     E, assim, estendeu-se a noite. Não houve muita conversa, só matávamos a saudade um do outro, e após um momento até esqueci os erros e mágoas do passado, afinal, era quase grosseiro ficar relembrando aquelas coisas se ela mesma não parecia se importar.
     Sem dúvida alguma foi o melhor sexo que já havíamos feito. Havia uma sintonia que eu nunca tinha sentido (ou percebido, ou dado valor) antes, até as luzes e cheiros pareciam dançar conosco.
     Pela primeira vez, tudo parecia estar a nosso favor. A noite foi como um constante orgasmo de sentimentos e sensações, que nem em seus momentos de além-apogeu nos sentimos satisfeitas. Eu sei, total clichê.

"Oh, you're in my blood like holy wine, you taste so bitter and so sweet. Oh, I could drink a case of you, darling, and I would still be on my feet. I would still be on my feet"

     Acordei pelo amanhecer, o sol entrava pela minha janela com persianas em uma visão quase perfeita, poderia ter feito parte de algum desses filme de romance de adolescente.
     No automático me levantei para ir ao banheiro, como rotineiro, então em flash lembrei da noite passada e fui invadida por uma onda de alegria tão forte que senti meus pelos arrepiarem. Sorri pensando na ironia de como estava mal e almejando suicídio na noite anterior. A vida às vezes é engraçada, ela nos surpreende quando menos esperamos.
     Sem voltar ao quarto, fui direto à cozinha preparar o café da manhã. Eu iria acordá-la com café na cama. Dessa vez tudo seria perfeito.
     Tudo pronto em cima da bandeja e lá fui com um alegre sorriso de bom dia. Tudo estava perfeito, por segundos pensei até em me tornar religiosa, pois para qualquer lugar que olhasse eu tinha a sensação de estar sendo acompanhada por um sarau de anjos, enquanto deuses pintavam o chão e as paredes conforme eu andava. Senti o desejo de ter olhos com capacidade fotográfica só pra registrar aquele momento maravilhoso.
     Cheguei no quarto e deparei-me com uma cama de casal normalmente vazia e de imediato senti um aperto no coração. Mas tentei não pensar no pior, fui procurá-la no banheiro, talvez estivesse acordada.
     Vazio.
     Procurei na sala, cozinha, quarto de visitas, varanda.
     Vazio, vazio, vazio,vazio.
     Senti o calor do desespero subir descontroladamente. Eu estava sendo precipitado, é claro, mas às vezes a ansiedade bate na porta e eu me desespero tanto que a abro sem querer.
     Ela não poderia me deixar, não desta forma abrupta após a noite anterior. Então fui procurar por coisas dela, talvez tenha deixado um bilhete, um cartão, qualquer coisa que revelasse o seu paradeiro.
Nada. Nem um mínimo sinal de que ela havia estado lá na noite passada. Nem um fio de cabelo esquecido no travesseiro.
     Me dei conta de que estava dando uma de maluco, então achei que seria melhor tentar começar a tentar relaxar. Deitei na cama e fiquei pensando durante um bom tempo. Talvez ela voltasse logo, podia apenas ter ido na rua comprar algo. Foi quando passou pela minha cabeça uma ideia maluca, pouco provável, mas: e se ela realmente nunca tivesse estado lá? Será que eu nem ao menos a encontrei? Ainda não estava louco a esse ponto, não era possível.
     Fui tirar a prova real olhando o vinho que eu tinha aberto na noite anterior e que havíamos largado ali para correr pro quarto.
     O vinho realmente estava aberto, mas só havia uma taça ao lado, vazia e limpa, acredito que vinho nenhum tocou ali. Já o chão estava melado e o tapete manchado, metade do líquido da garrafa estava lá.

Ela nunca havia estado lá.
Ela nunca havia me encontrado no bar e vindo para o meu apartamento.
Provavelmente nem lembrava mais de mim.

     Nisso eu já estava sentado no chão perto do vinho, desacreditado, enquanto minhas lágrimas compulsivamente se misturavam a ele. Não sei quanto tempo fiquei por lá.
     Talvez eu ainda esteja lá, não sei dizer.

"I would still be on my feet"


2 Comentários

  1. Oi, Tisa!
    Nossa! Que conto profundo! Fiquei com pena do cara ó hahhahaha
    Você deveria escrever mais contos e postar aqui.
    Beijos
    Balaio de Babados

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    Respostas
    1. Muito obrigada! Acredito que com o tempo eu venha a postar mais coisas sim, mas ainda preciso vencer um pouco mais a barreira da vergonha, rs
      Obrigada pela visita, beijos.

      Excluir

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